Cultura também nas coxias
Projeto Pixinguinha fomentou qualificação profissional de técnicos
O papel formador do Pixinguinha não se limitava às plateias. O projeto também foi responsável pela qualificação profissional dos trabalhadores envolvidos nos shows. Para apresentar espetáculos de alto nível, a equipe do projeto treinava administradores e técnicos nas cidades que recebiam as caravanas. “Nós trazíamos a pessoa para o Rio para treiná-la. O curso durava uma semana. Fazíamos reuniões e deixávamos a pessoa a par de questões como bilheteria, som e hospedagem”, conta Luis Sérgio Bilheri, coordenador do projeto de 1977 a 1990. Hermínio Bello de Carvalho, idealizador do Pixinguinha, frisa que o contato com técnicos especializados ajudou a formar muitos profissionais nos locais: “Isso assegurou que o nível de produção fosse bastante alto, mesmo nos poucos estados e municípios onde alguns teatros não tinham capacidade para atender àquela demanda”, destaca.
Os trabalhadores envolvidos com o Pixinguinha tinham a perspectiva de crescimento profissional. Alguns assistentes de direção tornaram-se diretores e muitos conseguiram o registro de artista por trazer no currículo o Projeto Pixinguinha. Sobre essa qualificação, Bilheri lembra bem: “Com uma declaração minha, comprovando o trabalho, muitos conseguiram o registro sem fazer a faculdade”.
Paulo César Soares é um exemplo de quem fez carreira no projeto. Ele ingressou no Pixinguinha em 1978 como administrador. Em 1979, passou a assistente de direção, ganhando mais contato com o palco. Por onde passava, transmitia seus conhecimentos aos trabalhadores dos teatros. “Nós do projeto – que tínhamos experiência em montar luz – ensinamos aos funcionários dos teatros o que sabíamos e eles aprenderam a desenhar a iluminação com a dinâmica e a velocidade que a música exigia”, recorda Soares, que em 1983 chegou à direção artística do Pixinguinha. Na época em que o projeto completava dez anos, Soares comentou em entrevista sobre o mesmo assunto: “Um fato representativo aconteceu em Fortaleza, em 1978. Tínhamos muita dificuldade de montar o show, tal a inexperiência das pessoas envolvidas. Algum tempo depois, em 1984 ou 85, quando lá voltei, me deparei com profissionais competentíssimos, pessoas que, por certo, iniciaram o aprimoramento técnico a partir daquele primeiro contato com o Pixinguinha ”.
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Além de plateias e técnicos, os espaços dedicados à música brasileira também foram qualificados pelo Pixinguinha. “Antes do Pixinguinha, a música popular estava vinculada a casas de espetáculo. Havia rejeição à proposta de levar a música popular para os teatros”, lembra Paulo César. “Eu nunca havia me apresentado em um teatro”, disse Cauby Peixoto durante entrevista na época de sua excursão com o Pixinguinha, em 1979.
“Rolava um grande preconceito contra a música popular. O Pixinguinha levou o samba, o choro e o rock aos teatros municipais, com um sucesso enorme”, conta Roberto Parreira, primeiro presidente da Funarte. O jornalista Alexandre Pavan, biógrafo de Hermínio Bello de Carvalho, lembra que a instituição chegou a bancar a reforma de espaços. “Numa das unidades do SESC, no centro de São Paulo, onde antes existia uma quadra esportiva que raramente era utilizada, foi construído o Teatro Pixinguinha para abrigar os eventos do projeto. Numa negociação feita por Hermínio, a Funarte se comprometeu com o projeto do local (assinado por Gianni Ratto) e o SESC arcou com os custos da construção”. A Fundação também investiu na recuperação de teatros para permitir a sua utilização. O Teatro Deodoro, de Maceió, teve refeito o sistema de energia elétrica e ganhou equipamento de luz e som. O mesmo aconteceu com o Teatro Escola Parque, em Brasília, e com o Salão de Atos da UFGRS, em Porto Alegre, que abrigou espetáculos do projeto na edição de 2005.