Uma caravana erudita e popular no Projeto Pixinguinha de 1979
Espetáculo que reunia a soprano Maria Lúcia Lucia Godoy, o pianista Miguel Proença e o sexteto Viva Voz tinha no repertório Ernesto Nazareth, João Bosco, Carlos Gomes e, sobretudo, Villa-Lobos
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Engana-se quem pensa que foi o rock a principal novidade do Projeto Pixinguinha em 1979, quando artistas como Marina Lima e Moraes Moreira trouxeram um som diferente do samba, do choro e da MPB que circulavam pelo país desde 1977. No terceiro ano do projeto, nenhum espetáculo foi mais inusitado do que o encontro entre a cantora lírica Maria Lúcia Godoy, o pianista Miguel Proença e o sexteto vocal Viva Voz. Dirigidas por Aguinaldo Di Fiore Filho, as três atrações percorreram teatros do Rio de Janeiro, de Vitória, Salvador, Maceió e Recife com um repertório que mesclava música popular e compositores eruditos, como Villa-Lobos, Francisco Mignone e Marlos Nobre. Clique ao lado para ouvir Maria Lucia Godoy, Miguel Proença e o grupo Viva Voz no Projeto Pixinguinha.
“Sem qualquer preconceito com relação à música”, como apresentava o programa impresso, a mineira Maria Lúcia Lucia Godoy abria o espetáculo com Sabiá (Tom Jobim e Chico Buarque) e em seguida apresentava canções de seus LPs, como O Canto da Amazônia (de onde tirou Tamba-Tajá, do paraense Waldemar Henrique) e Maria Lucia Godoy interpreta Villa-Lobos (de onde saiu o Lundu da Marquesa de Santos). Era acompanhada pelo piano do gaúcho Miguel Proença, que depois solava Apanhei-te Cavaquinho (Ernesto Nazareth) e Valsa da Dor (Villa-Lobos). Amigos de longa data, a soprano e o concertista tinham participado em 1978 da série Seis e Meia, no Teatro João Caetano, no Centro do Rio de Janeiro.
O repertório voltava mais uma vez a Villa-Lobos na interpretação do grupo carioca Viva Voz para o Trenzinho do Caipira (com letra do poeta Ferreira Gullar). E caía no samba com dois hinos da reabertura política: O Bêbado e a Equilibrista (João Bosco e Aldir Blanc) e Tô Voltando (Maurício Tapajós e Paulo Céesar Pinheiro), lançamentos daquele ano em gravações do jovem sexteto vocal, que não à toa era conhecido como “os cantores da anistia”. Surgido em 1978, como Quatro Cantos (com Belva Reed, Bia Paes Leme, Lu Medeiros e Soraya Nunes), o grupo foi rebatizado Viva Voz ao receber os reforços vocais dos arranjadores Ary Sperling (também violonista) e João Rebouças (pianista), chegando à formação com que viajou pelo Projeto Pixinguinha.