Projeto Pixinguinha: Johnny Alf e Zezé Motta encerram a temporada de 1978
Do Rio a Belém, passando pelo Nordeste, encontro do compositor pré-bossa-nova com a estrela de ‘Xica da Silva’ fechou com chave de ouro a segunda temporada do Projeto Pixinguinha

No palco do Teatro Dulcina (Rio), Johnny Alf e Zezé Motta abrem a última turnê do Projeto Pixinguinha em 1978
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Oxum – Johnny Alf
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Crioula – Zezé Motta
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Babá Alapalá – Zezé Motta
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Ilusão à Toa / Trocando em Miúdos / Rapaz de Bem – Johnny Alf e Zezé Motta
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Anunciação – Johnny Alf
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Céu e Mar – Johnny Alf
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Sai da Frente / Eu e a Brisa – Johnny Alf e Zezé Motta
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Dores de Amores – Zezé Motta
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Postal de Amor – Zezé Motta
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Magrelinha – Zezé Melodia
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Rita Baiana – Zezé Motta (1978)
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Xica da Silva – Zezé Motta
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Dengue / Oxum – Johnny Alf e Zezé Motta
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Em 1978, a bossa-nova comemorava 20 anos de seu marco inicial (o lançamento de Chega de Saudade, por João Gilberto) quando um dos precursores do gênero musical foi escalado para viajar em turnê com o Projeto Pixinguinha: o brilhante pianista, cantor e compositor Johnny Alf. Ao seu lado, foi escalada a cantora e atriz Zezé Motta, que, no auge de seu sucesso cinematográfico (interpretando a protagonista do filme Xica da Silva, de Cacá Diegues, em 1976), completava dez anos de carreira – sua estreia foi em 1968, na peça Roda Viva, de Chico Buarque, com direção de José Celso Martinez Correa.
Também foi em 1978 que Zezé lançou seu primeiro disco solo (Zezé Motta, pela gravadora WEA), com um repertório eclético que serviria de base para sua apresentação no Pixinguinha: Trocando em Miúdos (Chico Buarque e Francis Hime), Babá Alapalá (Gilberto Gil), Magrelinha e Dores de Amores (ambas de Luiz Melodia). Já Johnny Alf, que dividia com Zezé a interpretação de Eu e a Brisa e Ilusão à Toa, aproveitou a turnê para apresentar em primeira mão duas músicas do LP Desbunde Total, que lançaria ainda naquele ano: Anunciação e Oxum. Ouça o espetáculo na íntegra clicando na galeria de áudios.
E era justamente a homenagem ao orixá feminino dos rios e cachoeiras que abria e encerrava o espetáculo, numa escolha que não era sem motivo, como conta o jornal Província do Pará, na edição de 21 de novembro de 1978: “Muito antes de iniciar o Projeto Pixinguinha, alguém disse que ele iria trabalhar com uma pessoa de Oxum. Não deu outra: Zezé é filha de Oxum.” Na mesma matéria, Johnny (também filho de Oxum) atribuía à deusa africana parte do sucesso do espetáculo que, dirigido por Arthur Laranjeira, estreou no Rio de Janeiro – em 27 de outubro – e seguiu para João Pessoa, Natal, Fortaleza e Belém. Clique na galeria de imagens para ler esta e outras matérias sobre o espetáculo.
A mesma matéria destaca a presença de dois músicos paraenses – o baterista Magro e o baixista Mini Paulo – no sexteto do espetáculo, que contava ainda com os guitarristas Antônio Barboza e Cláudio Gábis, o saxofonista e flautista Márcio Pereira e o percussionista Marcos Palma. Quanto a Zezé, a Província do Pará ressaltava que o sucesso estrondoso de Xica da Silva não lhe subiu à cabeça: “Seus gestos são os mesmos da menina simples de Campos, e sua maneira direta de dizer as coisas mostra toda a estrutura de artista e mulher madura, muito atenta e preocupada com os problemas do mundo.”
Já o jornal O Povo, de Fortaleza, conta em 14 de novembro de 1978 que “os momentos frenéticos do espetáculo ficam por conta de Zezé, que demonstra uma incansável doação artística, unindo sua fabulosa voz à contagiante expressão corporal”. Com elogios ao repertório, o matutino cearense conta ainda que Johnny “dá o seu recado, na cadência vocal que criou, chegando ao clímax quando interpreta a sua antológica Eu e a Brisa”. Com excelente público (16.431 espectadores) e muitos elogios da crítica especializada, o encontro do “canário bossa-noveiro” com a “maravilha-cantante” – expressões usadas por Nelson Motta em sua coluna no jornal O Globo (27 de outubro de 1978) – foi um encerramento à altura da temporada 1978 do Projeto Pixinguinha.