O baião de Carmélia Alves e as novidades de Antônio Adolfo no Pixinguinha de 1978
O show, que contou com a participação de Vital Lima, refletiu momentos distintos da música popular brasileira da época
Vital Lima, Carmélia Alves e Antônio Adolfo, companheiros de estrada no Projeto Pixinguinha, em 1978.
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Sá Marina – Antônio Adolfo
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As luzes estão brilhando – Antônio Adolfo
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Chicote – Antônio Adolfo
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Aonde você vai – Antônio Adolfo/ Reis do baião – Carmélia Alves/ Baião – Carmélia Alves/Sabiá lá na gaiola – Carmélia Alves/ Cabeça inchada – Carmélia Alves/ Trepa no coqueiro – Carmélia Alves
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Último pau de arara – Carmélia Alves
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Travessia – Oswaldinho do Acordeon
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Pout-pourri de improviso: Só nos baixos/ Vira e mexe/ Sinfonia n. 5/ Marcha dos marinheiros – Antônio Adolfo
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Vermelhinho – Antônio Adolfo
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Suíte – Antônio Adolfo
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Teletema – Antônio Adolfo
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Pastores da noite – Vital Lima
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Boi bumbá/ Bandidos e bandidos – Vital Lima
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Balaio – Vital Lima
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Brinco de princesa – Carmélia Alves e Vital Lima
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Viola de Penedo – Carmélia Alves
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Vozes da seca – Carmélia Alves
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João e Maria – Carmélia Alves e Vital Lima
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Juliana – Carmélia Alves, Antônio Adolfo e Vital Lima
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Em 1978, o baião de Carmélia Alves dividiu o palco com os ritmos novos da época, representados por Antônio Adolfo, com influências da bossa-nova e do rock. Essa foi a 14ª dupla a se apresentar pelo Projeto Pixinguinha naquele ano, juntamente com o então novato e promissor Vital Lima. A escolha desse terceiro integrante dava prosseguimento à iniciativa da Funarte de apresentar nomes ainda inéditos no cenário musical, ao lado de uma dupla de artistas já consagrados. O primeiro show desse trio foi no Rio de Janeiro, no projeto “Seis e Meia”. Depois, os três, mais os músicos Oswaldinho do Acordeon, Nilton (trompete), Zé Carlos (sax e flauta), Zequinha (bateria), Paulo César (contrabaixo) e Arecessoni Silva (zabumba), percorreram Vitória, Salvador, Maceió e Recife.
O Jornal de Brasília, em 16 de junho de 1978, afirmava que Antônio Adolfo, Carmélia Alves e Vital Lima juntos acabavam com as classificações forjadas pelo marketing. “Veja-se Oswaldinho na sanfona, tocando um forró moderno e clássico, entremeado de balanço nordestino, uma pitada da 5ª sinfonia de Beethoven e – aqui e acolá – dando a impressão de ritmo pop. Ou tudo isso e mais alguma coisa no ‘Brinco de princesa’, de Vital e Hermínio Bello de Carvalho, com a significativa participação de todos. É tudo música”, dizia a matéria.
Essa mistura de sons também é elogiada em A tribuna, em 14 de julho de 1978: “O show é excelente, bastante diversificado, sendo quase uma visão panorâmica da música popular brasileira atual, já que temos desde o baião de Carmélia Alves, o carimbó de Vital Lima, até o trabalho mais apurado, com recheios de jazz, rock e mesmo música erudita de Antônio Adolfo”. Além disso, a matéria chamava a atenção de quem fosse assistir ao show para “Suíte”, de Antônio Adolfo, onde dois temas eram muito bem desenvolvidos, “um solene no Flugelhorn e outro mais cantable na flauta”.
Carmélia Alves começou a carreira imitando Carmem Miranda em programas de calouros e acabou contratada pela rádio Mayrink Veiga. Mais tarde ganhou o título de Rainha do Baião, tendo Luiz Gonzaga como rei, com quem chegou a se apresentar no projeto “Seis e Meia”; Luiz Vieira como príncipe e Claudete Soares como princesinha. O título veio numa de suas excursões pelo país. “Durante um show no auditório da rádio Jornal do Comércio, em Recife, o público ficou tão entusiasmado que começou a gritar, me chamando de Rainha do Baião”, explicou Carmélia ao Correio Braziliense, em 15 de junho de 1978.
Antônio Adolfo começou a tocar piano aos 13 anos. Formou conjuntos de jazz e bossa-nova para festinhas de fim de semana e cursou Direito até o segundo ano. Mais tarde, já profissionalmente, fez parte do trio 3-D e do conjunto de Elis Regina. Com Tibério Gaspar, formou o grupo “Brazuca”, que venceu a fase nacional do V Festival Internacional da Canção, com a música “BR-3”. No Jornal de Brasília, de 31 de dezembro de 1978, Antônio Adolfo ganhou destaque pelo lançamento de seus dois LPs, Feito em casa e Encontro musical, “produtos de uma experiência corajosa e renovadora na MPB dos anos 1970 – a produção independente”. Para o pianista, a produção independente das gravadoras era a única maneira de o músico trabalhar em liberdade.
Vital Lima, então um jovem compositor paraense que havia se destacado no I Festival de Música Universitária, em Belém, também estudou Direito, e também abandonou o curso, no terceiro ano. Ele ficou em segundo lugar com a canção “Por tua causa nº 2”, na voz da ainda desconhecida Fafá de Belém, que também foi premiada. Vital Lima veio para o Rio de Janeiro em 1975 e gravou o primeiro LP, Pastores da noite, três anos depois. Antes do show com Carmélia Alves e Antônio Adolfo, o cantor já havia se apresentado no projeto “Seis e Meia”, com Marlui Miranda e Oswaldo Montenegro.