Marlene, João Bosco e Novelli em clima de ensaio geral no Projeto Pixinguinha de 1980
Entre conversas, sambas, marchas e boleros, rainha do rádio de 1949 e 50 dividiu o palco com dois craques instrumentistas e compositores da música popular brasileira

João Bosco e Marlene no palco do Teatro Dulcina (Rio de Janeiro), na abertura da turnê do Projeto Pixinguinha, em 1980
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Sem fim – Novelli
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Dois pra lá, dois pra cá – João Bosco
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Geni e o zepelim – Marlene
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Joujoux e balangandãs / Você já foi à Bahia? / Os quindins de iaiá / O samba da minha terra / Pelas ruas do Recife – Marlene, João Bosco e Novelli
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Uma canção desnaturada – Marlene
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Atraente – Marlene
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Beguine dodói – Marlene
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Moleque – Marlene
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Triste Baía da Guanabara – Novelli
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Laranja azeda – Novelli
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Reis e rainhas do maracatu – Novelli
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Linha de passe – João Bosco
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Profissionalismo é isso aí – João Bosco
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Escadas da Penha – João Bosco
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Tal mãe, tal filha – João Bosco
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Gente da noite / Ronda / Mané Fogueteiro / De frente pro crime / Lata d’água / Mora na filosofia / Rancho da goiabada – João Bosco e Marlene
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Galope – Marlene, João Bosco e Novelli
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Linha de montagem – Marlene, João Bosco e Novelli
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Marlene e João Bosco já se conheciam desde 1974. Foi naquele ano que a cantora estrelou o espetáculo Te Pego Pela Palavra, na boate carioca Number One, renovando seu repertório à base da produção de jovens compositores como o então iniciante violonista mineiro. Eram dele (em parceria com o fiel Aldir Blanc) nada menos do que cinco canções do show produzido por Herminio Bello de Carvalho: Dois Pra Lá Dois Pra Cá, Cabaré, Resistindo, O Chefão e Beguine Dodói (com Cláudio Tolomei). Gravado pela Odeon e lançado em LP naquele mesmo ano, Te Pego Pela Palavra acabou sendo um divisor de águas na carreira de Marlene, que a partir dali atualizou seu já imenso estoque de fãs e sambas.
Só em 1980 Marlene e João Bosco voltaram a se encontrar profissionalmente, desta vez no Projeto Pixinguinha e acompanhados por Novelli – compositor e baixista pernambucano que, envolvido em diversos conjuntos e projetos coletivos desde o fim dos anos 60, se lançava em carreira solo. Era sua estreia no Pixinguinha, enquanto João Bosco e Marlene participavam do Projeto pela segunda vez – ele, depois de turnê com Clementina de Jesus em 1977; ela, que dividiu com Gonzaguinha um dos espetáculos mais concorridos das temporadas de 1977 e 78.
“Na época do Te Pego Pela Palavra, o Bosco levava as músicas dele para eu cantar. Agora estamos aqui, no mesmo trabalho”, contou Marlene ao jornal carioca Encontro, na edição de 26 de outubro de 1980. “Tomara que o Novelli, que está sendo lançado agora, mas que é meu músico há muito tempo, também estoure como o Bosco e como o Gonzaguinha.” Na mesma entrevista, a cantora de Lata d’Água (Luís Antônio e Jota Júnior), Zé Marmita (Luís Antônio e Brasinha) e Mora na Filosofia (Monsueto Menezes) contava que, mesmo com 32 anos de carreira, estava ansiosa para ver o resultado da turnê com João Bosco e Novelli. “No dia em que eu não estiver nervosa na véspera de um novo trabalho, não serei mais eu. Estarei morta.” Clique na galeria de imagens para ler esta e outras matérias sobre o espetáculo.
De 23 de outubro (data da estreia, no Rio de Janeiro) a 12 de novembro (data do último show, em Aracaju), a turnê fez um total de 16 apresentações, passando também por São João de Meriti (RJ), Brasília, Teresina e Campina Grande (PB). Acompanharam as três atrações os músicos Sérgio Carvalho (teclado), Darcy Fernandes (piano), Wagner Dias (contrabaixo), Chiquinho (bateria), André Tandeta, Maurício Jorge e Armando (percussões).
A direção artística ficou com o piauiense Benjamim Santos, que deu ao show um clima de ensaio aberto, como a própria Marlene tratava de dizer aos espectadores – como ouvimos na gravação do espetáculo e lemos na crítica publicada pelo Jornal de Brasília em 1 de novembro de 1980: “Sem querer ser o centro das atenções, Marlene torna-se a figura central do show, ou, como ela mesma diz, do ‘ensaio’.” O texto, assinado por Kido Guerra, elogia João (que “continua cantando os problemas do povo sem panfletagem ou agressões”), Novelli (embora nervoso como intérprete, é “sem dúvida, muito competente”) e o repertório variado: “De Ataulfo Alves a Gonzaguinha, passando por Chico Buarque e, obviamente, João Bosco e Novelli.” Trata-se, enfim, de “um dos melhores espetáculos já realizados em Brasília este ano”. Na galeria de áudios, ouça o espetáculo na íntegra.
Também publicada em 1 de novembro, a crítica do Correio Braziliense – assinada por Irlam Rocha Lima – não foi tão igualitária na divisão dos elogios à primeira apresentação do trio na Capital Federal. Segundo o jornalista, só faltaram os gritos de “É a maior!” para que a grande cantora do rádio se sentisse na Nacional dos anos 40 e 50: “Foi tão brilhante a participação de Marlene no show que chegou a ofuscar a presença do grande João Bosco e do notável Novelli.”