Labanca: o nome dele é teatro
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O amor às artes cênicas aparecia no nome. A assinatura “Labanca Teatro” consta até em recibos de pagamento. Não é exagero para um cidadão que dedicou sua vida a todos os elementos da nobre arte. João Angelo Labanca (1913-1988) foi ator, fundador de companhias teatrais, diretor de sindicato, interlocutor a favor da liberdade de expressão na época da censura, memória viva do circo, pesquisador nato.
À época de sua morte, em 1988, o crítico Yan Michalski escreveu uma carta emocionada sobre o amigo no jornal Cena Aberta, do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Rio de Janeiro. Um trecho resume bem a importância do legado do homenageado:
“A arte do ator é por natureza efêmera. Do ator Labanca só nos restarão lembranças e fotografias – o que em nada diminui, é claro, a sua importância. Já do pesquisador Labanca ficará algo muito tangível: o seu volumoso e bem organizado arquivo, que, imagino, irá parar oportunamente em alguma instituição onde possa ser consultado por todos os interessados.”
Assim foi feito. O acervo Labanca, composto por livros, recortes de jornal, fotografias e milhares de anotações sobre Teatro de Revista, Café Teatro, a companhia Os Comediantes (da qual fez parte) e diversos outros temas. O material foi doado para o Centro de Documentação (Cedoc) da Funarte aos poucos: no fim dos anos 70, o próprio Labanca cedeu livros e programas de peças. Em 1983 chegou o acervo de fotografias.
Formado em direito por imposição da família, Labanca se sentiu livre para se dedicar à sua paixão pelos palcos quando descobriu que o dinheiro do pai e dos tios vinha do jogo do bicho e de casas lotéricas. Em toda a carreira, sobressaiu a vontade de trabalhar para o conjunto, e não para as vaidades pessoais, a ponto de sua colega Luiza Barreto Leite afirmar que sua “influência diminuía na medida em que o sucesso aumentava”. Depois de atuar em diversas peças, criou companhias de teatro como Os Comediantes, Teatro de Equipe e Teatro de Hoje. Extremamente zeloso com os direitos dos profissionais da área, dirigiu o Sindicato Casa dos Artistas, foi membro honorário da Associação dos Carpinteiros Theatrais e fez parte do movimento que criou o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Rio de Janeiro.
Apaixonado pelas pessoas que faziam as artes cênicas brasileiras se consolidarem, sobretudo as anônimas, dedicou-se com afinco a listá-las como peças fundamentais de uma engrenagem em movimento. Como conta pesquisadora Alice Viveiros de Castro, “toda vez que viajava procurava os circos e tomava nota sobre tudo, a história das famílias, o nome dos aparelhos, técnicas e curiosidades”. Assim, fez um levantamento de datas de apresentação de espetáculos circenses de 1818 a 1988, ano de sua morte.
Veja na galeria algumas fotos do acervo Labanca, que se encontra no Cedoc da Funarte e está entrando em processo de digitalização.