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‘Rasga Coração’

No dia 11 de abril de 1973 – véspera de Vianninha ser operado para a retirada de um tumor no pulmão – nasce a filha Mariana Marins Vianna. Com uma aparente melhora, o artista passaria a se dedicar aos episódios de A Grande Família, além de continuar pesquisando para o segundo ato de Rasga Coração e de atualizar uma comédia do pai, O Homem que Nasceu Duas Vezes, rebatizada de Mamãe, Papai está Ficando Roxo!, que seria dirigida por Walter Avancini. Mas seu estado de saúde piora e, com a ajuda da TV Globo, Vianninha e sua mulher viajam para os Estados Unidos (fevereiro de 1974), para que ele se submeta a novo tratamento. Volta ao Brasil no final de março, 15 quilos mais magro, desenganado. Porém, como um obstinado, começa a ditar para um gravador o segundo ato de Rasga Coração, que começara a escrever em 1971. Deuscélia fazia a transcrição, datilografava e levava para o filho corrigir à mão.

Vianninha piorou e foi internado no Hospital Silvestre. Mesmo em estado crítico, decidiu ainda concluir o programa-piloto de Turma, Minha Doce Turma para a Globo. Enquanto isso, a batalha empreendida por José Renato para liberar Rasga Coração fora perdida. Além de censurada, a peça teve sua encenação e publicação proibidas. Mesmo assim, Rasga Coração recebeu o primeiro prêmio no concurso do SNT, por unanimidade da banca, sendo liberada pela Censura apenas cinco anos depois. No prefácio da peça, escrito em 28/02/1972, o autor dedicaria ao “lutador anônimo político, aos campeões de lutas populares; preito de gratidão à ‘velha guarda’: à geração que me antecedeu, que foi a que politizou em profundidade a consciência do país”.

Oduvaldo Vianna, filho, veio a falecer na manhã do dia 16 de julho de 1974, aos 38 anos. Sua obra Rasga Coração estreou em 21 de setembro de 1979 no Teatro Guaíra (Curitiba/PR). A crítica de teatro Ilka Zanotto assim descreveu a estreia: “Recebeu, ao descer a cortina, 8 minutos de aplausos, uma apoteose. Na segunda noite, o público simplesmente se recusava a deixar o teatro, com aplausos intermináveis, gritos de ‘bravo’, lágrimas e abraços, numa fusão total entre palco e plateia, mergulhado numa catarse autêntica preconizada pelo velho Aristóteles”. Não poderia ter outro resultado: Prêmio Molière de 1979.

Nelson Rodrigues, um ultracrítico de Vianninha, assim declarou: “Rasga Coração é uma das mais belas e fascinantes obras-primas do teatro brasileiro. Não posso ser mais conclusivo e definitivo”. Vianninha foi um autor superpremiado – só o Molière, foram quatro – que revolucionou a arte cênica brasileira com uma dramaturgia que tem, pelo menos, duas obras-primas: Rasga Coração e Papa Highirte. Ele buscou, infatigavelmente, imprimir sentido político à sua notável produção intelectual, vinculando-a, desde os primeiros escritos, aos deserdados, aos oprimidos e aos derrotados.

Em entrevista a Alfredo Souto de Almeida, Vianninha falou sobre a influência que recebeu do pai: “Acho que aprendi sempre vendo meu pai ditar as peças dele, as novelas dele, durante toda a vida [...] E eu acho que foi através disso que fui muito influenciado, mesmo. Inclusive eu tenho a impressão de que a influência é direta até no tipo de tratamento, no tipo de diálogo, um pouco sincopado, uma série de coisas que meu pai teve como característica”.

Carlos Estevam, um dos fundadores e dirigente do CPC, assim resumiu: “Sei que vou dizer uma frase bombástica, mas não estou enganado ao guardar do Vianninha a certeza de que ele seria a espécie humana num futuro remoto. O homem evoluirá para ser como ele foi; alguém completamente disponível para as outras pessoas”.

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