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Biografia de Santa Rosa

Santa Rosa, um artista plural

Cenário de Santa Rosa para a peça Uma Loura Oxigenada

Cenário de Santa Rosa para a peça Uma Loura Oxigenada

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Tomás Santa Rosa Júnior, nascido em 20 de setembro de 1909, na cidade de João Pessoa (PB), relatou em uma entrevista concedida em 1956 que seu talento artístico aflorou na infância, quando aos 5 anos de idade resolveu pintar “painéis de grandes proporções”; na realidade, ele se referia às paredes de sua casa. Com 9 anos, o governador do estado, Camilo de Holanda, impressionado com a qualidade de seus desenhos, manifestou o desejo de mandá-lo estudar na Europa, mas sua mãe, muito apegada, não permitiu que fosse. Não faltaram oportunidades para que o menino demonstrasse sua tendência às artes.

Precoce também foi a sua entrada para o serviço público. Aos 14 anos, foi convidado a trabalhar em uma repartição do governo que ficava próxima ao Liceu Paraibano, local onde concluiu seu Curso Comercial e bacharelou-se em Ciências e Letras. Prestou concurso para o Banco do Brasil em 1931, e foi nomeado para uma agência em Salvador (BA), tendo sido transferido posteriormente para Maceió (AL) e depois Recife (PE).

Santa Rosa, que alimentava o sonho de ir para a cidade do Rio de Janeiro aperfeiçoar sua vocação como artista plástico, abandonou o emprego em junho de 1932 e partiu para a Capital Federal. Assim que chegou foi morar no bairro do Catete e dividia um quarto de pensão com o futuro escritor José Lins do Rego. Autodidata, sempre estudou sozinho: a vida o ensinava. Entrou em contato com a pintura, a ilustração, a diagramação, a cenografia e o figurino, dedicando-se também ao ensino das artes.

Sensível e observador, possuía um talento plural que ia das artes plásticas ao teatro e à literatura. Era fascinado pela obra de Portinari, com quem trabalhou e cultivou uma grande amizade. Em 1945, indicado por Alceu Amoroso Lima, tornou-se crítico de arte do Diário de Notícias, ao ocupar o lugar deixado por Di Cavalcanti.

Suas primeiras criações como cenógrafo foram em 1937 com Ásia, de Lenormand, montada pela Companhia de Arte Dramática Álvaro Moreyra; Uma loura oxigenada, de Henrique Pongetti, dirigida pelo ensaiador Eduardo Vieira, no Teatro Rival; e Anna Christie, de Eugene O’Neill – as duas últimas, representadas pela companhia teatral de Jayme Costa. Em 1938, juntamente com Luiza Barreto Leite e Jorge de Castro, fundou o grupo de teatro amador Os Comediantes, que estreou em 1940 com a peça A verdade de cada um, de Luigi Pirandello, cujos cenários, realizados por Santa Rosa, receberam muitos aplausos.

Na encenação de Orfeu, de Jean Cocteau, entusiasmou a platéia ao conceber espelhos, confeccionados com papel celofane que, realçados pelo reflexo de luz prateada, pareciam verdadeiros. Mas a grande consagração de sua carreira foi a execução, em 1943, do cenário de Vestido de noiva, de Nelson Rodrigues, sob a direção de Ziembinski, espetáculo que consolidou o processo de modernização do teatro brasileiro. De acordo com o crítico Álvaro Lins: “Desdenhando os cenários e construindo a arquitetura cênica – com um bom gosto e uma penetração psicológica à altura da peça – Santa Rosa ficou sendo uma espécie de co-autor de Vestido de noiva”. (1)

‘Rainha Morta’ e Teatro Experimental do Negro

Em A rainha morta (1946), de Henry de Montherlant, o crítico do Correio da Manhã, Paschoal Carlos Magno, fez elogios e valorizou seus figurinos: “Os cenários de Santa Rosa são realmente admiráveis. De uma beleza tranqüila. Sugerem ambientes, toda uma época de guerreiros e conquistas, de ereção de catedrais góticas e descoberta do mundo, com o mínimo de elementos decorativos, como uma coluna, um vitral, uma rosácea gigantesca. (…) Santa Rosa foi mais longe na sua distribuição harmoniosa de beleza, desenhando os figurinos que a modista, sra. Nieta, produziu nos seus menores detalhes. (2)

Santa Rosa também colaborou com o Teatro Experimental do Negro (TEN), fundado em 1944 por Abdias Nascimento, e destacou-se nos espetáculos: Recital Castro Alves (1947); Terras do sem-fim, de Jorge Amado (1947); O filho pródigo (1947), de Lucio Cardoso; A família e a festa na roça (1948), de Martins Pena; Aruanda (1948), de Joaquim Ribeiro; e Filhos-de-santo (1949), de José Moraes Pinho.

Mais adiante, trabalhou com o Teatro de Equipe – ao fazer a cenografia de Massacre, de Emmanuel Roblès, sob a direção de Graça Mello – e com Renato Viana, Mario de Andrade, Bibi Ferreira e outros. Cenografou e confeccionou figurinos para óperas e bailados, ilustrou livros, principalmente para a Editora José Olympio, que contou com a sua colaboração ao longo de 22 anos.

Ocupava o cargo de Secretário do Conselho Nacional de Teatro, em junho de 1954, quando foi convidado para a direção do Conservatório Nacional do Teatro. Fez parte do júri das I e II Bienais de São Paulo. Ganhou vários prêmios, entre eles, a medalha de ouro da Associação Brasileira de Críticos Teatrais (ABCT) pelos cenários de Vestido de noiva, de Nelson Rodrigues; A morte do caixeiro-viajante, de Arthur Miller; e Senhora dos Afogados, de Nelson Rodrigues.

Representou o Brasil na Conferência Internacional de Teatro, realizada em 1956, em Bombaim, na Índia, país onde visitou centros artísticos e várias cidades. Durante a viagem, Santa Rosa adoeceu, foi hospitalizado e faleceu no dia 27 de novembro, em Nova Déli. Segundo Gustavo Dória: “A sua paixão pelo teatro só tinha equivalente no mesmo sentimento que nutria pela pintura. E os seus livros, se não se referiam às técnicas ou aos mestres da pintura, referiam-se a assuntos de teatro”. (3)

Notas:

(1) LINS, Álvaro. Algumas notas sobre Os Comediantes. Dionysos, n.22, SNT, Ano XXIV, Rio de Janeiro, dezembro de 1975.

(2) MAGNO, Paschoal Carlos. A Rainha Morta no Ginástico. Dionysos, n.22, SNT, XXIV, Rio de Janeiro, dezembro de 1975.

(3) DÓRIA, Gustavo. Os Comediantes. Dionysos, n.22, SNT, Ano XXIV, Rio de Janeiro, dezembro de 1975.

Bibliografia Consultada:

BARSANTE, Cássio Emmanuel. Santa Rosa em cena. Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Artes Cênicas, Coleção Memória, v.2, 1982 .

*Christine Junqueira é pesquisadora teatral e Doutora em Teatro pela UniRio.

Sobre o Autor, Christine Junqueira

Pesquisadora teatral e Doutora em Teatro pela UNIRIO. Texto de 2006.

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