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Sadi Cabral: dançarino, compositor, ator e diretor

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Nascido em Maceió, em 10 de setembro de 1906, Sadi Cabral tornou-se ilustre pela dedicação e paixão pelas artes em geral. Trabalhou no rádio, no teatro, na televisão, no cinema, além de ter sido bailarino, compositor e professor.

Aos 17 anos, Sadi tinha clara a sua vocação. Já morava no Rio de Janeiro quando começou a atuar no teatro, nas companhias de Lucília Pérez, depois na de Leopoldo Fróis e, então, na de Abigail Maia, na qual estreou profissionalmente, em 1924, na peça Secretário de Sua Excelência. No início da carreira, cursou dança e coreografia no curso de Maria Ollenewa e Richard Nemanoff e participou de alguns espetáculos no Teatro Municipal como bailarino.

Adepto do sistema de realismo psicológico do teatrólogo russo Constantin Stanislavski (1863-1938), Sadi dedicou-se também a estudá-lo. Stanislavski discriminou um conjunto de regras para a vivência de emoções autênticas em cena, com o objetivo de que o ator mergulhasse em sua memória emocional e estudasse cada intenção do personagem, de modo a dar a ele a sensação de realidade. Os conhecimentos adquiridos nesse período acabaram tornando Sadi, algum tempo depois, docente dessa matéria.

Em 1930, Sadi começou a trabalhar na Rádio Philips, no Programa Casé, que ia ar aos domingos e durou até 1936, quando essa rádio transformou-se em Rádio Nacional. A atração tinha quadros de radionovela, histórias policiais, minimusicais e quadros de humor, nos quais Sadi Cabral destacava-se pelas interpretações. O artista também passou a adaptar, para o rádio, clássicos da literatura brasileira. Foi nesse mesmo ano que surgiu para ele a primeira oportunidade no cinema, no filme Bonequinha de seda, de Oduvaldo Vianna. Logo em seguida, foi chamado para gravar Noites cariocas.

Depois da temporada de estudos, dança e rádio, Sadi Cabral volta aos palcos em Iá-Iá boneca, de Ernani Fornari. Em 1939, foi o responsável pela montagem de Guerras de alecrim e da manjerona, de Antônio José da Silva, com a Companhia Comédia Brasileira. Este foi o primeiro espetáculo do Serviço Nacional de Teatro (SNT), criado por Getúlio Vargas por sugestão de Gustavo Capanema, sob a direção de Abadie Faria Rosa.

Foi através de um concurso de teatro amador para peças em um ato, promovido pela Associação dos Artistas Brasileiros, que Sadi Cabral, Mafra Filho e Luiza Barreto Leite, integrando o grupo Os Independentes, ganharam destaque na imprensa. Eles venceram o concurso com a peça A verdade de cada um, de Pirandello, e entraram em temporada no Teatro Regina (hoje Dulcina), no Centro do Rio de Janeiro.

Sadi já não cabia só na função de ator. Após a temporada com Os Independentes, em 1941, o artista uniu-se à Companhia de Comédias Íntimas, de Raul Roulien. Dirigiu Como quiseres, de Shakespeare, para o Teatro do Estudante do Brasil, e Prometo ser infiel, de Dario Nicodemi. Entre os trabalhos de que participou nessa companhia, também estão a direção de cena de Trio em lá menor, de Raimundo Magalhães Junior, em que Sadi Cabral teve como colega de trabalho Cacilda Becker, e A grã-duquesa e o garçom, de Savoir.

Os anos seguintes foram de muita atividade. Entre outros espetáculos, Sadi Cabral atuou em César e Cleópatra e Santa Joana, ambos de Bernard Shaw; pela Companhia Dulcina, esteve em A ré misteriosa, de Bisson, da Companhia Itália Fausta.

Era meados da década de 1940 quando esse alagoano participou do Teatro Experimental Negro, atuando em O imperador Jones, de Eugene O’Neill, apresentando no Teatro Municipal do Rio de Janeiro a situação do negro após a abolição. Em junho de 1949, passa a lecionar, desde o início, no Curso Prático de Teatro, que Santa Rosa conseguiu instalar junto ao Serviço Nacional do Teatro. Em 1956, Sadi Cabral entrou para o Teatro Brasileiro de Comédia e, pela atuação em Eurydice, de Jean Anouilh, direção de Gianni Ratto, recebeu o Prêmio Saci do jornal O Estado de S. Paulo. Nesse mesmo ano, lançou pela Sinter o LP Sadi Cabral interpreta poemas de Luiz Peixoto, em que declamava poemas de Bandeira.

No Teatro de Arena, Sadi Cabral trabalhou, entre outros, nos espetáculos Juno e Pavão, de Sean O’Casey;  A mulher do outro, de Sidney Howard e Só o faraó tem alma, de Silveira Sampaio, com direção de Augusto Boal. Recebeu o Prêmio Governador do Estado de São Paulo e a medalha de ouro da Associação Paulista de Críticos Teatrais pelo desempenho em A alma boa de Set-Suan, de Bertolt Brecht, e por A cantora careca, de Eugène Ionesco, em 1958.

Em 1959, já no Teatro Maria Della Costa, em São Paulo, Sadi participa do primeiro sucesso de Flávio Rangel como diretor, repleto de música e dança. O espetáculo Gimba – O presidente dos valentes, de Gianfrancesco Guarnieri, narra a vida em uma comunidade carente, dominada pelo jogo do bicho e coagida por uma polícia autoritária. A peça foi encenada no Festival Théâtre des Nations, na França, alcançando grande sucesso internacional.

Os anos 1960 chegam e Sadi faz uma breve passagem pela Companhia Tônia-Celi-Autran, em Lisbela e o prisioneiro, de Osman Lins, com direção de Adolfo Celi e Carlos Kroeber. Em seguida, junta-se aos atores do Teatro Oficina, em Todo anjo é terrível, de Ketti Frings, com direção de José Celso Martinez Corrêa. Atua na montagem de Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, com direção de Sergio Cardoso, e em Júlio César, de William Shakespeare, com direção de Antunes Filho.

Na década de 1970, Sadi Cabral trabalhou com novos diretores com uma linguagem mais pessoal, como em Oh! Que belos dias, de Samuel Beckett, com direção de Ivan de Albuquerque; Tango, de Slawomir Mrozek, com direção de Amir Haddad; Lulu, de Frank Wedekind, com direção de Ademar Guerra; entre outros. Sua última peça foi O homem do princípio ao fim, em 1981, de Millôr Fernandes.

O currículo de Sadi incluiu participações em mais de 40 filmes, entre eles, Pureza; Vinte e quatro horas de sono; O dia é nosso; Terra violenta; Inconfidência Mineira e Escrava Isaura. Depois do primeiro convite da TV Tupi, em 1967, para que Sadi Cabral participasse de Paixão proibida, de Janete Clair, vieram muitos outros. Entre as décadas de 1970 e 1980, ele fez parte do elenco de diversos folhetins de televisão. Passou pelas TVs Bandeirantes, Excelsior, Tupi; Cultura e Globo. Nesta, interpretou o personagem Seu Pepê, que fez Sadi conquistar definitivamente os telespectadores e ganhar popularidade. A história do poderoso Hipólito Peçanha, que, confundido por Patrícia como um faxineiro da fábrica da qual era dono, faz-se passar por Seu Pepê, virou, inclusive, tema de uma marchinha de carnaval no ano de 1972. Seu último trabalho na televisão foi em Maçã do amor, novela exibida pela TV Bandeirantes.

Na música, Sadi Cabral fez a primeira composição em 1938, em parceria com Custódio Mesquita. A opereta A bandeirante, apresentada em outubro do mesmo ano no Teatro São Pedro, na capital gaúcha, Porto Alegre, deu início a uma amizade que rendeu outras canções. Sadi tornou-se letrista, escrevendo com Custódio, nos anos seguintes, as valsas Velho realejo, O pião, Bonequinha, além do fox Mulher, que tornaram-se grandes sucessos na voz de Sílvio Caldas, Carmen Costa, Carlos Galhardo e do grupo Anjos do Inferno. Com Davi Raw, compôs os choros Sapoti e Cachorro Vagabundo, além do samba Ciúmes, gravado por Rubens Peniche.

Sadi Cabral faleceu em 23 de novembro de 1986, aos 80 anos, vitimado por uma parada cardíaca. Recebeu como homenagem o nome de uma rua no bairro Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro; de uma praça no Alto da Lapa e de um teatro, ambos em São Paulo. Seu acervo pessoal, com 282 documentos, foi doado à Funarte por Darcio Nazari Franco, filho da atriz Floramy Pinheiro, responsável por Sadi Cabral em seus últimos anos de vida. Há também na biblioteca da Funarte fotos de Sadi Cabral em diferentes atuações. Alguns dos itens constam nesta galeria de imagens, os demais estão disponíveis para consulta no Centro de Documentação (Cedoc) da instituição, no Rio de Janeiro.

Por Aline Veroneze
Revisão de Maria Cristina Martins e Pedro Paulo Malta

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