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Walter Pinto relembra os anos de glória no Teatro Recreio

Em entrevista ao Serviço Nacional de Teatro, ícone do Teatro de Revista brasileiro conta como alcançou o sucesso e revê sua trajetória

A atriz Íris Bruzzi, o diretor do SNT, Orlando Miranda, e o produtor teatral Walter Pinto, em janeiro de 1975. Cedoc/Funarte

A atriz Íris Bruzzi, o diretor do SNT, Orlando Miranda, e o produtor teatral Walter Pinto, em janeiro de 1975. Cedoc/Funarte

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Em 31 de dezembro de 1939, Walter Pinto fazia sua estreia como produtor teatral com a revista É Disso Que Eu Gosto, estrelada por Aracy Cortes. O nome fora tirado de uma música de Carmen Miranda lançada nos Estados Unidos e o elenco contava ainda com Oscarito e Vicente Markelli. Em entrevista concedida ao Serviço Nacional de Teatro (SNT) em 15 de janeiro de 1975, o produtor, responsável pelo estrondoso sucesso do Teatro de Revista no Brasil nas décadas de 40 e 50, lembra do início da carreira e de episódios marcantes de sua trajetória.

Walter Pinto foi um dos entrevistados da coleção de livros intitulada Depoimentos, que a partir de 1974 disponibilizou históricas entrevistas com alguns dos mais importantes artistas da cena teatral nacional. Editada pela Funarte com o Ministério da Educação e o Serviço Nacional de Teatro, a coleção tem no volume três curiosas revelações do produtor para um time de entrevistadores formado pelos atores Íris Bruzzi, Manoel Vieira e Maria Pompeu e pelo diretor do SNT, Orlando Miranda. Walter Pinto conta que assumiu a companhia teatral herdada do pai e posteriormente administrada por seu irmão sem que tivesse experiência alguma na área. “Eu nem assistia teatro, pois meu pai sempre me proibiu por causa das mulheres que havia lá dentro”, diz.

Títulos cômicos e populares batizavam os espetáculos

Depois da morte do irmão num acidente aéreo, Walter, então com 27 anos, teria que tomar a frente do negócio, que conseguiria, ao longo dos anos, transformar em rentável. À atriz Maria Pompeu, o produtor lembra do processo de trabalho que envolvia a criação dos títulos das revistas, em geral engraçados e muitas vezes com duplos sentidos. “Os títulos eram frutos de uma gestação dolorosa e demorada. A única regra era a de que tinha que ser eminentemente popular, pois assim era o meu teatro… eles tinham que ser eufônicos, pitorescos e populares. O Tem Bububu no Bobobó, que era engraçadíssimo, foi combatido até na Câmara dos Deputados”.

Durante o bate-papo, o produtor revela os percalços por que passou para alcançar o sucesso: “O público não ia ao teatro porque o teatro não prestava”. Assim, Walter Pinto tratou de despedir as coristas que lá estavam desde os tempos da administração de seu pai e substituí-las. “Fiz o expurgo do elenco das bailarinas e comecei a contratar, pelo dobro do preço, dançarinas da Urca e de outros lugares”. O produtor investiria então em coreografias bem ensaiadas e em luxo. “Resolvi fazer tudo no escuro porque pensei ‘quem vai a teatro quer ver tudo bonito: cenário, roupa, mulheres. Teatro é uma ilusão…. teatro é sonho”.

“Tinha na minha companhia muita moça virgem”, diz o produtor

Sua celebrada carreira Walter Pinto construiu no palco do Teatro Recreio, do qual, infelizmente, foi intimado a sair, como lembra durante a entrevista: “…Eu estava enriquecendo os cofres do então Distrito Federal porque pagava 20 por centro de imposto. Fui colocado para fora do Recreio como se fosse um moleque. Em 24 horas, intimado. Numa segunda-feira, o Sr. Cotrim Neto, diretor não sei do quê, botou caminhões na porta do Teatro Recreio desapropiado e começou a desmontar tudo aquilo que era patrimônio de 30 anos de uma empresa. Foi esse o prêmio que a cidade do Rio de Janeiro deu a Walter Pinto”. Ex-mulher de Walter Pinto, Íris Bruzzi procura jogar luz sobre o citado episódio: “Mas será que não tiraram o Recreio de você porque você se acomodou? Você levou dois, três anos, sem fazer nada da categoria que fazia antes…” As razões para a retirada do produtor do teatro passam a ser, então, centro da conversa.

Para Walter Pinto, sua trajetória contribuiu para que os artistas tivessem uma imagem melhor. “Fiz do meu teatro uma oficina de trabalho onde era exigido o maior respeito. Qualquer transgressão à moral era punida com suspensão ou com expulsão imediata do elenco. Antes, as mulheres andavam às vezes despidas por onde estavam os carpinteiros, eletricistas, maquinistas etc”. E continua: “Meu teatro em relação ao que vejo hoje era um convento. Inclusive eram proibidas as visitas de camarim para camarim, fofoquinhas e palavrões. Aquilo era um santuário, respeito era ali dentro…”.

Conhecido por recrutar para seus espetáculos bailarinas francesas, argentinas e de outras nacionalidades, que considerava mais disciplinadas que as brasileiras, Walter Pinto defende na entrevista a conduta das moças. “Quantas mulheres você trouxe de Paris que depois voltaram senhoras casadas e tudo?”, pergunta Manoel Vieira. “Quase todas casadas e bem casadas. Aliás, eu tinha também na minha companhia muita moça virgem, parece absurdo. Tinha mais virgem na Companhia do que hoje em Copacabana”.

Impasses com a censura governamental, o êxito financeiro e artístico, os 23 anos de espetáculos encenados no Teatro Recreio pela Companhia Walter Pinto (de 1939 a 1963) e a admiração do produtor pelas ‘girls’  (as moças que emprestavam sua beleza às revistas) são outros assuntos tratados neste histórico depoimento do produtor Walter Pinto ao SNT.

Saiba mais sobre a trajetória do produtor no acervo Walter Pinto.

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Comentários

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gostaria de saber noticias de uma bralharina da epoca nome carmem machado obrigado

enviado em 11 de agosto de 2012

gostei muito do que vir abraço vou esta sempre aqui

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