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Uma boa ideia batizada Pixinguinha

As origens e bases do projeto da Funarte que circulou pelo Brasil a partir de 1977 e entrou para sempre na história da música popular brasileira

João Bosco e Clementina de Jesus, parceiros no Projeto Pixinguinha em 1977

João Bosco e Clementina de Jesus, parceiros no Projeto Pixinguinha em 1977

O ano era o de 1977. Sob o comando do general Ernesto Geisel, o Brasil começava a caminhar para a “distensão lenta, gradual e segura” do regime militar instalado em 1964. A imprensa testava os limites da censura, arriscando matérias críticas ao governo, enquanto familiares de presos políticos formavam o Comitê Brasileiro pela Anistia. Nas artes, a cultura pop estrangeira dominava telas e dials. O público vibrava com as aventuras de Han Solo no megassucesso Guerra nas Estrelas, de George Lucas, e se esbaldava nas discotecas recém-abertas, ao som dos hits do Bee Gees, popularizados pelo estrondoso sucesso do filme Embalos de Sábado à Noite (John Badham).

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Neste mesmo ano, na noite de 5 de agosto, Nana Caymmi e Ivan Lins apresentaram no palco do Teatro Dulcina o primeiro show de uma iniciativa que iria marcar o Brasil e tornar-se exemplo de política cultural: o Projeto Pixinguinha. Um projeto que consolidou uma nova atitude do governo, de valorização e incentivo, em relação à música popular. Um programa tão importante que, por mais de 30 anos, levou a música brasileira a todo o país, formando plateias e oferecendo aos artistas a chance de excursionar por regiões longínquas, apresentando sua obra a um novo público. Clique na galeria acima para assistir a um vídeo sobre os primeiros três anos da história do Projeto Pixinguinha.

A decisão do governo militar de apoiar um programa de circulação da música popular fez parte de uma tentativa do regime de se reaproximar da classe média e dos formadores de opinião. “Havia interesse do governo em tentar fazer uma espécie de cooptação branca da classe artística para a tal distensão que se esboçava”, analisa o compositor Hermínio Bello de Carvalho, um dos criadores do Pixinguinha.

Os músicos brasileiros haviam sido alvos constantes da artilharia do governo autoritário. Logo após a decretação do AI-5, em 1968, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Geraldo Vandré, entre outros, tinham sido obrigados a passar períodos de exílio na Europa. Os que ficaram estavam sujeitos aos desmandos da censura. “Na fase mais autoritária do regime, a cultura era considerada um supérfluo e o músico popular era tido como um marginal”, escreveu Margarida Autran no livro Anos 70 – Ainda sob a Tempestade (org. Adauto Novaes, Editora Senac Rio).

Coube a Ney Braga, Ministro da Educação e Cultura entre 1974 e 1978, a tarefa de buscar a aproximação com os artistas. “Preocupado com a aparente decadência da MPB e interessado em detectar as causas dessa crise”, Braga determinou que o Departamento de Assuntos Culturais (DAC) iniciasse um processo de consulta da classe artística para definição de políticas para a área. Entre outros problemas, o DAC apontou que 70% do mercado fonográfico era dominado pela música estrangeira e que artistas brasileiros tinham dificuldade de fazer cumprir a lei que determinava a execução de obras nacionais no rádio e na televisão.

Em 1975, Ney Braga lançou as diretrizes de uma Política Nacional, que previa como papel do Estado o “respeito à liberdade de criação” e o apoio ao desenvolvimento da cultura brasileira. Em 16 de dezembro do mesmo ano, assinou o decreto de criação da Fundação Nacional de Arte (Funarte), destinada a atuar como incentivadora e divulgadora das artes nacionais. A equipe do novo órgão governamental, curiosamente, seria formada por vários antigos opositores do regime. “Havia naquele período um grande número de exilados voltando para o Brasil. Muitos deles foram trabalhar na Fundação”, lembra o primeiro presidente da instituição, Roberto Parreira. Ele ressalta que o grupo era jovem e entusiasmado. A começar pelo presidente, na época com apenas 32 anos.

O projeto de divulgação da música brasileira foi a primeira grande iniciativa da Funarte. A proposta foi sugestão de um grupo de artistas, que acabara de criar uma sociedade para receber seus direitos autorais e mobilizar a classe contra a censura. Os músicos haviam sido expulsos de sua sociedade arrecadadora, a SICAM. “Pediram uma prestação formal de contas – e aí foram colocados no olho da rua. A partir dessa indignação geral, nasceu a Sombras – ideia que sempre credito a Macalé e a Sergio Ricardo. Tenho a honra de dizer que ela foi formalizada em minha casa”, lembra Hermínio Bello de Carvalho, vice-presidente da diretoria encabeçada por Tom Jobim.

Maurício Tapajós, Aldir Blanc, Gonzaguinha, Gutemberg Guarabyra, Vitor Martins e Chico Buarque faziam parte do grupo de fundadores da Sombras. Além de contribuir para melhorar a arrecadação dos direitos, a entidade apresentou ao Ministério a ideia do Pixinguinha que se baseava no Seis e Meia, um sucesso lançado por Albino Pinheiro em 1976, por sua vez inspirado em uma iniciativa francesa. No Seis e Meia, a proposta era ocupar o horário ocioso do Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, com shows a preços populares. O grupo da Sombras pretendia fazer o mesmo em nível nacional. Aprovado, o projeto foi batizado com o nome de um mestre idolatrado por todos. “Pixinguinha  era o nosso Deus. Se há um nome que sempre é lembrado como matriz da nossa música, é dele que recordamos”, justifica Hermínio.

Roberto Parreira conta que o próprio Ney Braga sugeriu que a Funarte fosse a executora do projeto. “O ministro perguntou se eu achava que se encaixava na Funarte. Eu disse que tinha mais é de abrir para a música popular”, recorda Parreira. A coordenação geral do Pixinguinha ficou a cargo de Hermínio Bello de Carvalho, já na época consagrado como diretor e produtor de discos e espetáculos. “Podemos dizer que, se havia um projeto de cooptação por parte do governo, ele desmoronou. O projeto fez-se vitorioso, ganhando uma força política que impediu qualquer tipo de interferência na sua gestão”, avalia Hermínio.

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