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Com Dona Ivone Lara e Roberto Ribeiro, Projeto Pixinguinha caiu no samba em 1978

Do Sul ao Norte do Brasil, dupla de craques da escola de samba Império Serrano levantou plateias com cadência e um repertório impecável

Dona Ivone e Roberto Ribeiro: o Projeto Pixinguinha no embalo do Império Serrano

Dona Ivone e Roberto Ribeiro: o Projeto Pixinguinha no embalo do Império Serrano

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O ano de 1978 não foi fácil para os torcedores do Império Serrano. Acostumados a carnavais memoráveis, muitos troféus e, sobretudo, belos sambas (como os do grande Silas de Oliveira), os foliões amargaram um desfile abaixo das tradições da escola da Serrinha – morro da Zona Norte do Rio de Janeiro – e o resultado foi o rebaixamento para o grupo de acesso. Ferido, o orgulho dos imperianos só começou a se restabelecer mais ou menos dois meses depois do carnaval, precisamente no dia 21 de abril de 1978, quando o samba do Império Serrano caiu na estrada com o Projeto Pixinguinha, nas vozes de Dona Ivone Lara e Roberto Ribeiro.

Naquela noite, o que se viu no Teatro Dulcina (Rio de Janeiro) foi “um verdadeiro carnaval no final do espetáculo”, como escreveu Nelson Motta em sua coluna no jornal O Globo, edição de 26 de abril de 1978. Participando da festa, “mais de 200 representantes do Império Serrano estiveram presentes no lance”, aplaudindo o espetáculo, que de lá seguiria para São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte, Brasília e Belém, com um público total de 11.313 pagantes. Clique na galeria de imagens para ler esta outras matérias sobre o espetáculo.

Dirigido por Érico de Freitas, o espetáculo teve o acompanhamento do Grupo Família: Aderval Maciel (irmão de Roberto Ribeiro, no reco-reco e no ganzá), Norival Miranda (outro irmão, no tamborim), Urbano Santos (surdo), Ivan Milanez (pandeiro), Mauro Ferreira (cavaquinho), Jorge Conceição (violão de sete) e Daniel Jr. (contrabaixo).

No dia da estreia, O Globo publicou matéria em que a jornalista Margarida Autran lamentava a rápida passagem da caravana pelo Rio de Janeiro (“Pena que é hoje só.”) e, em texto bem informal (“A véia vai vir toda de prata e branco.”), abria aspas para a estrela daquela noite, Dona Ivone Lara. “Mulher compositora até hoje não é bem aceita nas escolas. Tanto que não pertenço à Ala dos Compositores, embora já tenha defendido samba deles”, dizia a pioneira autora de Os Cinco Bailes da História do Rio (com Silas de Oliveira e Bacalhau), samba-enredo imperiano de 1965. “Na minha época, escola de samba não era comercial. A gente curtia a alegria, o samba mesmo. Hoje é luxo, visual, não tem mais jeito. Estão faturando e não fazem questão de voltar às raízes.” Clique na galeria de áudios para ouvir o espetáculo na íntegra.

O programa oficial do espetáculo informava que “o compromisso de criar os filhos impediu que Dona Ivone Lara apresentasse seu trabalho há mais tempo” e que só naquele ano de 1978, depois de se aposentar de sua profissão formal (“enfermeira e assistente social há 37 anos”) é que começava a cuidar da carreira artística. Já Roberto Ribeiro era apresentado como “um dos mais populares sambistas da atualidade”. O programa também relembra sua breve passagem pelo Salgueiro (puxando o samba Praça Onze, carioca da gema, no carnaval de 1969) antes de chegar ao Império Serrano, onde passaria a atuar como puxador oficial em 1971. Quando chegou ao Projeto Pixinguinha, com seis LPs lançados, já era considerado um dos maiores cantores de samba de sua geração.

O encontro da dupla imperiana, contudo, não foi unanimidade. Que o diga o jornalista Wladimir Soares, do Jornal da Tarde (SP), que criticou a sonoridade do espetáculo na edição de 27 de abril de 1978: “Dona Ivone Lara tem uma voz anacrônica em relação ao sambão”, uma voz que “pede exatamente o diminutivo”. Visivelmente aborrecido, o crítico aponta que “a culpa, em parte, cabe ao conjunto Grupo Família, que não tem a menor sutileza” ao tocar com a cantora, tornando “difícil acompanhar, inclusive, a letra de suas composições”. O texto também não poupa a apresentação de Roberto Ribeiro (“embora tenha seus momentos de Wilson Simonal”, não é “brilhante e entusiasmador”), antes de concluir: “Do jeito que está, seria melhor tirar as cadeiras de dentro do teatro e deixar a plateia dançar.”

Ao contrário do que se leu em São Paulo, o Correio Braziliense foi só elogios ao show, classificado pelo jornalista João Bosco Rabello como “o mais puro samba carioca, o canto forte de Madureira”, sendo “um dos mais autênticos espetáculos de música popular brasileira do Projeto Pixinguinha, imperdível para quem gosta e para quem não conhece o samba carioca”. Publicada na edição de 24 de maio de 1978, a crítica exalta ainda “a excelente ‘cozinha’ dos músicos que acompanha a dupla” e faz elogios individuais ao canto de Roberto Ribeiro (“um dos nossos melhores intérpretes de samba”) e às composições de Dona Ivone Lara, que do roteiro do show “assina 12 sambas da melhor qualidade”.

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