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Quando a TV e o teatro andaram juntos

Fotos de cenas do 'Grande Teatro', programa que marcou época na TV Tupi e na TV Rio, são parte importante do acervo Labanca, mantido pela Funarte

Fernanda Montenegro e Sergio Britto no teleteatro 'A Casa em Ordem', em 1963. Cedoc/ Funarte

Fernanda Montenegro e Sergio Britto no teleteatro 'A Casa em Ordem', em 1963. Cedoc/ Funarte

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Logo em sua primeira década de existência, a televisão iniciou com o teatro um longevo namoro que, infelizmente, não tornaria a se repetir. Em 1956, a TV Tupi incluiu, entre suas atrações, o programa Grande Teatro, que brindava os telespectadores com adaptações de peças de teatro e romances literários. Grandes damas da arte de representar no Brasil, atrizes como Fernanda Montenegro e Nathália Timberg participavam do elenco fixo da atração. Mais de 50 anos depois, o teleteatro permanece vivo na memória de quem pôde, à época, acompanhá-lo semanalmente, durante seis anos na TV Tupi e outros dois na TV Rio. Um passado que pode ser relembrado também a partir de uma série de fotografias das produções presentes no acervo Labanca, sob os cuidados do Cedoc (Centro de Documentação) da Funarte.

Produtor do célebre programa, Sérgio Britto também desempenhava a função de ator e, quando decidiu dar fim à atração, por desentendimentos sérios com a TV Rio, tratou de relembrar, em entrevistas como a publicada pelo jornal Tribuna da Imprensa em dezembro de 1963, dos áureos períodos do teleteatro e do tour de force que envolvia sua feitura: “Estreamos com Espectro, de Ibsen, temeridade segundo a maioria – peça excessivamente pesada para a TV. Nosso programa fez tanto sucesso que já no dia seguinte ao espetáculo inaugural passamos a apresentar o Grande Teatro todas as semanas”. A qualidade dos textos encenados foi outro ponto destacado pelo ator: “Trabalhamos seis anos na Tupi. Acreditamos ter feito alguma coisa em TV. O nosso programa, aparentemente de elite, acabou sendo aceito pelo grande público e, contra a opinião da maioria, as peças dramáticas de grande conteúdo artístico foram sempre sucesso”.

Da parceria afetiva que se estabeleceria entre os atores do elenco, que contava ainda com nomes como Ítalo Rossi, Oswaldo Loureiro, Sérgio Viotti e Lia Maioni, nasceria a companhia teatral Teatro dos Sete. O ritmo, nos bastidores do Grande Teatro, era acelerado, com os atores tendo que ensaiar durante a madrugada para que o texto estivesse afiado no dia seguinte. Se dos grandes escritores nacionais foram encenados e televisionados textos de nomes como Machado de Assis e José de Alencar, entre os internacionais figuraram títulos de autores como Dostoiewski e Lorca. Em boa parte das vezes os elencos eram enxutos, mas houve, na contramão, momentos de superproduções, para os padrões da época. “Apresentamos, pela primeira vez no Brasil, Paddy Chaivsky. Tensão em Xangai (1960) é um drama que mistura tensão dramática com um show de cantores, bailarinos, num elenco que entupiu a TV Tupi. Eram 130 pessoas no elenco”, observa Sérgio na mesma entrevista. “No dia do sétimo aniversário, nos sentimos cansados como qualquer trabalhador braçal, e um pouco assustados com a coragem de ter apresentado 350 peças diferentes em TV, muitas delas consideradas impossíveis para o vídeo”.

Da TV Tupi para a TV Rio

Curioso é perceber que, nos primórdios da TV, as relações trabalhistas eram, muitas vezes, informais, como observaria Sérgio Britto em outra entrevista, concedida ao jornal Correio da Manhã em janeiro de 1965. “Eu e minha equipe trabalhamos seis anos na Tupi. Nunca tivemos férias nem contratos. Era tudo de boca, e funcionou sempre, de ambos os lados. Fomos otimamente tratados”. Mas a paixão pelo teatro em seu habitat natural, o palco, modificaria tal situação. “O Teatro dos Sete foi obrigado a viajar. Era composto pelos mesmos nomes que integravam o elenco dos teleteatros do canal 6. Jamais tivera férias, e o jeito foi ir à direção pedi-las pela primeira vez. Resolução da Tupi: concederia três meses de férias a todos nós, mas sem remuneração de espécie alguma. E nós viajamos. Passamos o diabo, o elenco contava com o salário da TV Tupi. Na volta, recebi uma proposta da TV Rio, na base de três vezes mais. Não havia o que discutir. Bem, aí começou a nossa via-crúcis”. Na nova emissora, o programa seria trocado de horário algumas vezes e o elenco enfrentaria maratonas como passar 19 horas seguidas para gravar um único programa. Desta forma, a atração ficaria apenas mais dois anos no ar, graças ao desencanto de Sérgio Britto, seu produtor, com a televisão.

Cenários não balançavam e perucas permaneciam nas cabeças

Durante o período em que o Grande Teatro foi veiculado, outros programas semelhantes rivalizaram com ele (caso do Teatro de Equipe, de Paulo Porto, e do Studio V, de Fernando Torres), mas sem alcançar o mesmo sucesso de público e crítica, como prova texto do jornalista Leo Vitor publicado pelo Jornal do Brasil em março de 1959. “O Grande Teatro, de Sérgio Britto, apresentado pela TV Tupi às segundas-feiras, constitui um caso especialíssimo. É, sob todos os aspectos, um programa perfeito. Aparentemente, Sérgio tem apenas os elementos técnicos comuns aos outros produtores de teatro da TV Tupi, apenas os cenários não balançam, os cortes se fazem nas horas certas, as cabeleiras ficam nas cabeças até o fim da peça, e as roupas são realmente da época”.

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