#

patrocínio:

Lei de Incentivo à Cultura Petrobras
Brasil Memória das Artes
Conheça o Brasil Memória das Artes

Discurso de posse à época da criação do INFoto

Núcleo de fotografia da Funarte se transformou em Instituto de Fotografia em 1984

O discurso abaixo foi feito por Pedro Vasquez, então diretor do INFoto, à época de sua criação, 18 de março de 1984.

É importante salientar neste momento a originalidade da proposta de criação do Instituto Nacional da Fotografia que, fugindo à equivocada postura de importação de soluções estrangeiras – na maior parte dos casos inadequadas para a nossa realidade – surge agora em conclusão ao longo levantamento das carências específicas da fotografia brasileira, empreendido pelo Núcleo de Fotografia da Funarte nos seus cinco anos de existência.

A criação do Instituto Nacional da Fotografia baseia-se, portanto, numa necessidade real, não sendo em absoluto fruto da iniciativa isolada de alguns tecnocratas inspirados, mas a justa resposta aos anseios dos fotógrafos brasileiros, empenhados no reconhecimento da importância do papel da fotografia dentro do panorama geral de nossa cultura.

Reconhecendo essa importância, o MEC, através da Secretaria da Cultura, demonstra grande sintonia com o caráter essencialmente visual de nossa cultura, que vinha sendo preterido em consequência da visão distorcida que erigiu como soberana uma tradição literária de raízes europeias que não consegue abranger toda a diversidade e efervescência da produção cultural brasileira.

Devo ressalvar que a criação do Instituto não vai significar a burocratização da fotografia. A estrutura do Instituto deverá ser dinâmica como a própria fotografia brasileira, evoluindo sempre para acompanhar a perpétua inquietação desta arte que apesar de ainda não apreendida em sua totalidade por uma parcela importante do meio artístico, supera essa incompreensão amalgamando-se de modo indissociável a praticamente todas as manifestações culturais das sociedades modernas.

O Instituto Nacional da Fotografia atuará em nove áreas de interesse: a produção fotográfica; a preservação do acervo existente e em produção; a formação do fotógrafo e dos demais técnicos em fotografia; a assessoria técnica às instituições culturais; o encaminhamento de soluções para os problemas profissionais; bibliografia no campo da fotografia; intercâmbio técnico e da produção fotográfica brasileira a nível internacional; pesquisa de materiais e equipamentos; e as questões de infraestrutura.

Essas linhas de atuação foram determinadas graças a consultas constantes à categoria, que teve e continuará a ter, oportunidade de se expressar pelos mais diversos meios, como a carta de recomendações subscritada por representantes de dez estados diferentes por ocasião da I Semana Nacional da Fotografia, realizada aqui na Funarte em agosto de 1982. Esta carta continha 11 tópicos – e hoje podemos nos orgulhar de ter atendido a todos.

Uma das recomendações exigia maior dinâmica do Projeto Itinerância, “com aproveitamento da produção local sempre que possível”. Atendendo-a, somente no ano passado enviamos exposições para 62 cidades de 21 estados, reservando sempre um “Painel Livre” no qual os fotógrafos locais podiam afixar livremente as fotos de sua autoria. Além disto, passamos a incorporar debates, projeções de audiovisuais e oficinas de trabalho às mostras, para criar um efeito residual mais consistente e permanente. Devo assinalar ainda que não nos limitamos a fazer circular as exposições produzidas pelo nosso Projeto Exposições, colocando igualmente no circuito mostras produzidas por iniciativa individual dos próprios fotógrafos.

Outra recomendação dizia respeito ao apoio aos problemas profissionais, como a questão crucial da regulamentação da profissão, urgência absoluta quando se sabe que a profissão é praticada no país há mais de um século e meio. Atendemos à solicitação e temos continuado a endossar todas as reivindicações da categoria, como aquelas concernentes ao desrespeito generalizado ao direito mais básico e inalienável de todo criador: o direito autoral – regulamentado pela Lei n. 5.988, de dezembro de 1973, mas raramente respeitado.

Esse apoio incondicional aos problemas profissionais nos parece primordial, pois não acreditamos no mito do artista pobre e sacrificado que extrai inspiração das próprias vicissitudes. Mesmo porque isso seria impossível no campo da fotografia, arte tecnológica que lida com equipamento sofisticado e caro. É preciso pulverizar esse mito, criado pela conveniência dos manipuladores do mercado de arte, e passar a valorizar o produtor cultural com a mesma ênfase com que valorizamos sua produção.

Que os afoitos se resguardem de concluir que as ações do Instituto Nacional da Fotografia beneficiarão apenas os fotógrafos profissionais, pois não é o caso. Nossa ação pretende englobar a produção fotográfica como um todo, valorizando a fotografia sob todas as suas formas, entre as quais o lazer, manifestação tão válida quanto qualquer outra e indispensável para a formação de um amplo circuito fotográfico.

Nosso desejo é o de ver a fotografia se alastrar pelo Brasil com a urgência avassaladora de um vício. Vício que gostaríamos de ver arraigado na alma brasileira da mesma forma inamovível que está a música. Para disseminá-lo não poupamos esforços, invadindo todos os espaços disponíveis, dos consagrados aos improváveis, dos nobres salões dos museus aos corredores dos centros comerciais, do metrô, da Central do Brasil, e de um estádio de futebol, assim como as próprias ruas da cidade, com o Projeto FotoAndança.

Dentro da mesma perspectiva, prosseguiremos na tentativa de sensibilizar públicos das mais diversas faixas etárias e camadas sociais. Já apoiamos diversos projetos destinados ao público infantil, e uma experiência com os pensionários de um asilo para pessoas idosas; e tivemos a satisfação de constatar que os velhinhos encararam a aventura com o mesmo entusiasmo irrestrito das crianças. Talvez porque a fotografia trabalhe com a essência da própria vida: a Luz.

A exemplo da Luz, que dissemina seus raios equitativamente em todas as direções, o Instituto Nacional da Fotografia terá como um de seus compromissos básicos a descentralização de suas atividades. Única forma de estimular e resguardar os movimentos regionais, evitando que a fotografia brasileira enverede pela senda enganosa de um cosmopolitismo pasteurizador que é a maior ameaça à identidade cultural de uma nação.

Cabe salientar que não esperamos o surgimento do Instituto para empreender esse movimento descentralizador, iniciando em 1982 um programa de Mostras Regionais que teve origem na já citada carta de recomendações dos representantes estaduais. Duas mostras deste tipo já foram realizadas, a Foto Centro-Oeste e a Foto Sul, que hoje recebemos na Funarte, depois de ter circulado por diversas cidades da região Sul.

Esta mostra contou com o patrocínio integral do Banco Bamerindus. E, amanhã, assinaremos convênio com o Banco do Nordeste do Brasil para patrocínio, também integral, da Foto Nordeste, que será montada em novembro, em Fortaleza, dando prosseguimento à nossa campanha de valorização da fotografia a nível regional. Primeiro passo para que se possa detectar mais tarde os componentes máximos de brasilidade da fotografia produzida no país.

Caberá ao Instituto Nacional da Fotografia encontrar mecanismos para afirmar essa brasilidade dentro e fora das nossas fronteiras, assegurando uma presença marcante e permanente da fotografia brasileira no cenário artístico internacional. Dentre os eventos já assegurados para este ano de 1984, podemos citar o envio da Foto Sul para Ohio, nos Estados Unidos, em outubro, e a realização, em novembro, de uma mostra no Mois de la Photo à Paris, a festa máxima da fotografia em Paris. Em 1985, devemos enviar uma coletiva de 16 fotógrafos para a Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Mas nós acreditamos que nossos esforços na área internacional devem ser concentrados na tentativa de integração latino-americana, para romper o injustificável isolamento em que vivemos no continente. Portanto, comprometemo-nos desde já a lutar para trazer para o Brasil o IV Colóquio Latino-americano de Fotografia.

É evidente que esta tentativa de integração latino-americana só será bem-sucedida se a ela corresponder uma integração a nível nacional. Um de nossos mecanismos mais eficazes para a viabilização desta missão será a Semana Nacional da Fotografia, que o Instituto realizará anualmente em estados diferentes. As duas primeiras Semanas já tiveram lugar no Rio de Janeiro e em Brasília, em 1982 e 1983, respectivamente, e a terceira ocorrerá em agosto próximo em Fortaleza.

Além de fornecer subsídios para a produção contemporânea, através de palestras, projeções, exposições, debates, mesas-redondas e oficinas de trabalho, a Semana Nacional da Fotografia funciona também como uma ponte direta entre a Funarte e os fotógrafos. Uma ocasião ímpar para detectar os anseios e aspirações da categoria.

Um dos anseios principais concerne à obtenção de meios para a concretização de propostas de trabalho individual, muito dificultadas no país pelo alto custo do material fotográfico. Para corresponder a esta expectativa, escolhemos a data de criação do Instituto, a data de hoje, para o lançamento de nosso primeiro concurso de bolsas de trabalho e pesquisa fotográfica, que oferece oito bolsas de 3 milhões de cruzeiros cada, num total de 24 milhões, para que os fotógrafos agraciados possam desenvolver seus trabalhos com total autonomia e liberdade de criação. Para nomear este concurso, escolhemos a figura ilustre do pioneiro Marc Ferrez, um dos expoentes máximos de nossa fotografia e o primeiro a efetuar, na segunda metade do século passado, fotografando-o de Norte a Sul com seu estilo elegante e inconfundível.

Marc Ferrez está representado hoje, aqui nesta sala, por seu neto, Gilberto Ferrez, ele próprio um pioneiro, ao qual devemos a maior reverência por ter lançado as bases da pesquisa da história da fotografia brasileira há mais de 30 anos. Esse é, aliás, o tema do livro de sua autoria que o Instituto Nacional da Fotografia publicará este ano em associação com a Fundação Nacional Pró-Memória, para inaugurar a Coleção História da Fotografia no Brasil.

Assuntos relacionados:

Compartilhe!

Caro usuário, você pode utilizar as ferramentas abaixo para compartilhar o que gostou.

Textos

leia todos os 73 textos deste acervo »

Imagens

veja todas as 40 imagens deste acervo »

Vídeos

veja todos os 8 vídeos deste acervo »

  • infoto-videodocumento-2010-historia-fotografia-brasileira_com legendas em espanhol

    infoto-videodocumento-2010-historia-fotografia-brasileira_com legendas em espanhol

    Videodocumento
  • infoto-videodocumento-2010-historia-fotografia-brasileira_com legendas em frances

    infoto-videodocumento-2010-historia-fotografia-brasileira_com legendas em frances

    Videodocumento
  • infoto-videodocumento-2010-historia-fotografia-brasileira_com legendas em ingles

    infoto-videodocumento-2010-historia-fotografia-brasileira_com legendas em ingles

    Videodocumento