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Biografia de Anísio Medeiros

Veja galeria de desenhos do figurinista e ouça sua entrevista na íntegra

Desenho do figurino da montagem de 1962 de 'O Pagador de Promessas', de Dias Gomes. Direção de José Renato. (Reprodução)

Desenho do figurino da montagem de 1962 de 'O Pagador de Promessas', de Dias Gomes. Direção de José Renato. (Reprodução)

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Leia a seguir o texto de 14 de julho de 1977 que resume o depoimento do cenógrafo ao Serviço Nacional do Teatro, realizado no dia anterior. Ouça o depoimento na íntegra e confira a galeria de imagens, ambos à esquerda.

Anísio Medeiros no SNT

Para o cenógrafo e figurinista Anísio Medeiros, a curiosidade natural que a criança possui, aguçada quando colocada defronte das festas do calendário religioso e das manifestações folclóricas em geral, foi fundamental para a descoberta de suas aspirações. A partir do comentário dos pais – Anísio é um menino bem mandado – talvez seja esta a expressão popular perfeita para defini-lo como um observador arguto e constante de tudo aquilo que ocorria à sua volta em matéria de uma “arte do povo”.

Dando sequência ao levantamento da memória teatral brasileira, Anísio prestou seu depoimento ao Serviço Nacional do Teatro, dia 13 p.p, com coordenação de Licínio Neto e entrevistado pelo crítico Ian Michalski, o cenógrafo José Dias, o ator Ivan de Albuquerque, a atriz Beatriz Veiga e o professor Reynúncio Napoleão Lima.

Presépio, reisado, pastoril e chegança (nau catarineta), realizações capazes de fornecer aos espectadores um certo “devaneio visual”, foram os temas que despertaram no garoto Anísio seu primeiro contato com as diversas formas a serviço de também diversos efeitos plásticos. Apesar da simplicidade e da economia dos materiais empregados na confecção de adereços e figurinos específicos de cada evento, a profusão da cor, bem como a anarquia cênica, permitiram que Anísio Medeiros, na Teresina de seus 11 anos, fosse estimulado a participar da elaboração dos cenários para estas festas. Morando ao lado do Teatro 4 de Setembro, ele traz ainda na lembrança a visão de um dos poucos espetáculos que viu, onde era atriz Amélia de Oliveira.

Traz um plano para D. Fulana, faz um enfeite para D. Cicrana, visita o presépio de uma casa de gente mais abastada e ele acaba vindo ao Rio de Janeiro para estudar Arquitetura, juntamente com o irmão José Medeiros. Início da década de 40, na MC Modas, à Rua Gonçalves Dias, Anísio trabalhou como figurinista, seu primeiro emprego. Parte do dinheiro ganho foi sabiamente gasta em teatro, mais precisamente tomando conhecimento das encenações que a companhia de Louis Jouvet trouxe ao Brasil. No entanto, um trabalho feito ainda em 1938, cenários e figurinos para Sonata ao Luar do Balé da Juventude, daria a Anísio Medeiros conduta definitiva em se tratando da ambientação cênica: adereços, figurinos e cenários fazem parte de um todo espacial, não devendo em consequência serem dissociados. Em seu entender, qualquer concepção que envolva a manipulação da forma como resposta a determinado estímulo será sempre integral, não podendo ficar a cargo de mais de um criador.

Já então conhecedor das particularidades da linguagem cênica, Anísio deixaria de lado a “arquitetura permanente” para se engajar no teatro, aproveitando também as facilidades que sua formação arquitetônica propiciavam. Para o Teatro Jovem, ele faria os cenários e figurinos de Chapéu de Sebo, O Vaso Suspirado e O Chão dos Penitentes, todas elas de Francisco Pereira da Silva, desenvolvendo cada vez mais os requisitos básicos que, em sua opinião, são necessários para um trabalho conjunto com o diretor. No âmbito da cena, conceituando “tempo de criação”, “intenção do espetáculo” e “resposta espacial”, Anísio Medeiros ainda realizou vários outros trabalhos em teatro: Memórias de um Sargento de Milícias, A Raposa e as Uvas, Filhos Terríveis, O Boca de Ouro, O Pagador de Promessas e As Aventuras de Ripió Lacraia, estas três últimas para a Companhia Dramática Nacional, no Teatro Nacional de Comédia. No Teatro do Rio (hoje Teatro Ipanema), ambientou o Prodígio do Mundo Ocidental, de Synge e A Invasão, de Dias Gomes.

Paralelamente à sua atuação em teatro, Anísio é também um profissional da área de cinema, tendo estreado em Capitu, de Paulo César Sarraceni, filme que ele próprio considera como um dos únicos enganos de sua carreira. De Capitu até Os Inconfidentes, Lição de Amor, Dona Flor, Joana Francesa, dentre outros, foi um pequeno passo. Discorrendo sobre o campo de trabalho que os dois tipos de atuação requer, ele coloca uma diferença fundamental: em teatro, existem “mil olhos estáticos” (os espectadores) e, em cinema, “um olho móvel” (câmera), embora tratar da forma com duas linguagens seja um trabalho de etapas quase idênticas. Afastado do teatro desde a montagem de Mais Quero um Asno que me Carregue do que Cavalo que me Derrube, adaptação de um auto medieval, Anísio disse também que não abandonou propriamente o palco, isto porque o cinema acaba por tomar seu tempo integralmente. Porém, sempre influenciado pelas artes cênicas durante toda sua vida, ele retornou aos palcos cariocas, elaborando cenários, adereços e figurinos de As Chaves das Minas, musical de Ivan de Albuquerque e Rubens Corrêa.

Por outro lado, Anísio Medeiros pode ainda situar que seu trabalho, quer em teatro ou em cinema, depende essencialmente das funções que ocupa no magistério, pois orientar futuros profissionais para a criação artística sempre foi sua verdadeira vocação. Professor de desenho de Observação na UFRJ e na Santa Úrsula e Professor de Cenografia na FEFIERJ, ele continua sendo um observador, agora, porém, dono de uma das presenças mais criteriosas já vistas na área da cenografia.

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