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Do ‘Actor’s Studio’ ao Teatro do Oprimido

O dramaturgo Augusto Boal na juventude. Cedoc-Funarte

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A relação de Augusto Boal (1931-2009) com o teatro foi iniciada após a conclusão do curso de química na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1950. Com a obrigação de obter um diploma em graduação tradicional cumprida, ele embarcou para Nova Iorque, onde estudou teatro na Universidade de Columbia. O período, de aprendizado fértil, teve como mestre John Gassner e a possibilidade de assistir às aulas do Actor’s Studio ­– ali, foram construídos os alicerces que tornariam o então aluno um diretor e dramaturgo respeitado e, mais tarde, um teórico, pensador teatral de reconhecimento mundial.

Com apenas 25 anos, já de volta ao Brasil, em 1956, Boal foi contratado para integrar o Teatro de Arena de São Paulo, passou a dividir as tarefas de direção com José Renato, e implantou o chamado Curso Prático de Dramaturgia. Foi quando apresentou aos atores o método de Stanislavski, que aprendera durante sua permanência nos Estados Unidos. Depressa, tratou de adaptá-lo às condições brasileiras e ao formato de teatro de arena. Nascia, então, na cena artística brasileira, uma forma de interpretar mais aproximada do comportamento normal das pessoas, com uma composição naturalista, sem o exagero típico de encenações de companhias da época, e focada em retratar o homem simples em cena, como lembra Lima Duarte em seu depoimento sobre o companheiro de trabalho. A atuação de Boal no Arena foi fundamental no engajamento do grupo na esquerda brasileira, com o estabelecimento de uma dramaturgia e interpretação voltadas para as discussões e reivindicações nacionalistas, temas que tinha força na segunda metade dos anos 50.

Alternando textos de autores estrangeiros com espetáculos de sua autoria, contribuiu para a fase nacionalista do Arena, num tempo de extrema valorização da cultura do País, com o avanço da Bossa Nova e do Cinema Novo. Foi no Arena, em 1958, que nasceu a exitosa: Eles Não Usam Black Tie, que, sob direção de Gianfrancesco Guarnieri, salvou o grupo de fechar as portas. A origem humilde dos personagens se repetiria em peça do ano seguinte, sob direção de Boal: Chapetuba Futebol Clube, de Oduvaldo Vianna Filho, que revelava as trapaças políticas orquestradas num pequeno time de várzea. Os anos 60 assistiram a parceria do Arena com o Teatro Oficina e ao período em que o Arena passou a nacionalizar os clássicos. A fase nacionalista por excelência se encerraria com O Testamento do Cangaceiro, direção de Boal para texto de Chico de Assis.

É de 1965 Arena Conta Zumbi, parceria entre Boal, Guarnieri e Edu Lobo que utilizou pela primeira vez o sistema coringa: os oito atores representavam todos os personagens e traziam à tona a luta dos quilombolas de Palmares e sua resistência ao domínio português. Dois anos mais tarde veio a público outro espetáculo que buscava levantar voz contra a censura da ditadura militar: Em Arena Conta Tiradentes, Boal conclamava a plateia a agir com o refrão ‘de pé, povo levanta na hora da decisão’. Tão logo foi instalado o golpe militar, Boal foi ao Rio de Janeiro dirigir o show Opinião, com Zé Kéti, João do Vale e Nara Leão (logo substituída por Maria Bethânia). Criava corpo, então, um grupo que, até 1968, foi foco de resistência à situação política vigente no País. Com a decretação do Ato Institucional nº 5, em 1968, o Arena excursionou para fora do país, passando, entre 1969 e 1970, por Estados Unidos, México, Peru e Argentina. Arena Conta Bolívar, escrita e dirigida por Boal, é deste período. Inédita no Brasil, foi somada ao antigo repertório. Depois de preso e exilado, em 1971, Boal passou cinco anos na Argentina, onde desenvolveu a estrutura teórica dos procedimentos do Teatro do Oprimido, que se consagraria, mais tarde, em países da Europa e de outros continentes.

Foi somente no meio da década de 80 que o diretor pôde retornar de vez ao País, a partir da Anistia. Dos anos 70 aos 2000, lançou vários livros sobre seu fazer teatral, entre eles Teatro do Oprimido e Outras Políticas Poéticas (1975) e Jogos para Atores e Não Atores (1988). O musical O Corsário do Rei (1985), texto de sua autoria com música de Edu Lobo e letras de Chico Buarque, e a peça Fedra (1986), de Racine, com Fernanda Montenegro no papel-título, foram algumas de suas montagens após o retorno do exílio. Em 2009, ano de sua morte, foi nomeado embaixador mundial do teatro pela UNESCO. Em janeiro deste mesmo ano, fez um contundente discurso durante o Fórum Social Mundial, realizado em Belém do Pará. Nele, critica a mídia e fala sobre a nova ordem mundial, do presidente Barack Obama, de Guantánamo e, no Brasil, de MST e da criação dos pontos de cultura pelo Ministério da Cultura.

Seu nome estará sempre ligado à função social que conferiu ao teatro, o que lhe permitiu, na união entre teatro e pedagogia, tornar-se o homem de teatro mais conhecido do Brasil no exterior.

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